domingo, 9 de agosto de 2009

O desemprego ... por Ana Alegria

O desemprego, mais do que uma condição social que envergonha uma nova geração activa é uma “profissão”! (que muitos teimam em censurar).
Depois de ter concluído uma formação no ensino superior, e de ter tido o privilégio de estagiar numa das melhores empresas do País, Ana viu-se arrastada pelo grande terramoto económico que assolou o Ocidente.
O desemprego é o seu “cartão-de-visita” para o mercado de trabalho. Mas, cedo, Ana percebeu que a conjuntura económica mundial a obrigaria a aceitar o desemprego como uma actividade a tempo inteiro, sem qualquer subsídio, pois a tal não tem direito, já que, como recém-licenciada, nunca antes trabalhara.
Ana não se tem poupado a esforços, submetendo-se diariamente a uma procura activa, metódica e persistente para tentar a sua entrada no mercado de trabalho.
A dupla “recibos verdes e salário de 500€” é, e vergonhosamente continuará a ser a oferta mais gritante, por parte das empresas de trabalho temporário, e das bolsas de emprego on-line. Despidos de sensatez, e saciados de arrogância, os empresários que ignominiosamente não abdicam dos seus salários, nunca inferiores a 5000€, escravizam, assim, uma sociedade faminta de dignidade e respeito.
Silenciosamente, contam-se as poucas moedas que a magia não multiplica até ao final do mês, e procura-se, agora, a Misericórdia e as lojas sociais que vendem roupa em segunda mão...
É com um misto de amargura, desilusão, e vergonha que os filhos duma geração criada na miséria dum regime autoritário, volta, tal como no passado, à mendicidade.
É este o retrato duma nova sociedade que cresce nas sombras da boa aparência, e do bem parecer, em que a pobreza não está gravada no rosto, mas na alma de quem a carrega…
Quanto à Ana, continuará “trabalhando” desprovida de salário, até ao dia que um novo emprego honre o nobre esforço, que a família e ela diariamente defrontam.

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